Bio

Que seja mar que se festeja RGBDO RIO PARA O MAR

Menino das águas, menino das tintas.

Menote Cordeiro foi um daqueles meninos banhados de rio. Na cidade onde nasceu, Janaúba, norte de Minas, passava o Rio Gorutuba, subafluente do São Francisco.

Ali parecia que a infância era também feita das pedrinhas do rio e dos peixes, que Menote nunca conseguiu pegar. Talvez nem quisesse: só olhar o brilho deles furando as águas já era tão bom, eram pincéis se movendo e despertando no menino o fascínio das cores multiplicadas pela luminescência das águas. É verdade, os peixes não foram pescados, mas hoje habitam inúmeros quadros do artista, saídos do mais fundo de sua história.

O menino Menote originou um adolescente que passava horas dos seus dias colorindo com lápis de cor. Do papel para a tela foi um pulo, e Menote desvendou por seu próprio esforço e curiosidade os segredos da tinta a óleo. Foi assim que, aos 18 anos, montou sua primeira exposição.

Mas a história continua. Sem renunciar à sua paixão pelo óleo, descobriu na aquarela o surpreendente domínio do tempo da água. Um tempo em que mergulhou na criação de identidades visuais para vários projetos culturais, já trabalhando em Belo Horizonte.

Novas influências, múltiplas referências e outras linguagens vieram desaguar nas mãos do artista. Um grande parceiro surgiu: o computador. Mesmo encantado pela precisão dessa novidade, Menote nunca abandonou o instinto que rege o desenho à mão livre. Agora, é com uma caneta óptica que o artista desenha, pinta, colore e executa sua arte, sempre aberto à busca e descoberta de novas linguagens, materiais e técnicas.

Arte e espiritualidade caminham juntas na obra de vários artistas desde o começo dos tempos. E com Menote Cordeiro não é diferente. A primeira referência da fé de Menote, quando criança foi o chão da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Janaúba. Ele diz que não entendia o que o padre falava e preferia se deleitar com o desenho dos azulejos do piso.

O peixe é um tema sempre renovado nos quadros de Menote. É a água onipresente, pois peixe e água se misturam, inseparáveis. O rio volta a correr, as águas viram mar: e lá estão os peixes outra vez, como se passassem de um quadro para o outro, nadando em um curso líquido ininterrupto – o inconsciente.

É desse inconsciente que surge também o tema das árvores. Como Menote costuma dizer, “as árvores e seu incansável desejo de estabelecer contatos”. É o silêncio das raízes debaixo da terra, evocando nossa ligação com um tempo de memória e, por outro lado, são os galhos voltados para o alto buscando o sempre novo, a eternidade.